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REVISTA DA PROCURADORIA-GERAL DO ESTADO DO ACRE

Em meio às políticas governamentais que não

atendiam à manutenção do trabalho dos seringueiros e à

preservação da floresta, os seringueiros tentavam impedir

o que representasse o fim de suas vidas e tradições. Assim,

Chico colocou-se na defesa de seus companheiros seringueiros

e esteve várias vezes a frente dos empates.

Emsua entrevista, Chico enfatiza: “Uma das lutasmais

longas e difícil foi travada com o grupo Bordon

11

. Durou quase

10 anos. Durante este tempo nós fizemos mais de 20 empates.

Os proprietários tentaram me corromper. Ofereceram terras e

cem cabeças de gado para que eu servisse de mediador entre a

Bordon e os seringueiros. Não conseguiram.” (MENDES apud

PAULA; SILVA, 2006, p.40).

A agressão contra a floresta significava também

agressão contra muitas vidas, o que fez com que Chico Mendes

lançasse um projeto para encontrar soluções locais sustentáveis

para uma vida digna do povo daquela região, levando-se em

consideração que a floresta representava o único meio de

sustento para índios e seringueiros. “No Brasil, os seringueiros

foram os primeiros trabalhadores a articular o sindicalismo

rural com a ecologia.” (NAKASHIMA, 2006, p.23).

Chico Mendes mobilizava e organizava os

seringueiros em forma da luta por reconhecimento de direitos,

pois todos que ali viviam na mesma situação de sofrimento

e humilhação social, sendo motivados reciprocamente pelo

mesmo sentimento de injustiça generalizado, apresentado nas

11Geraldo Moacir Bordon, foi um grande pecuarista e o maior exportador

de carne bovina da década de 80 que adquiriu vários seringais em Xapuri

no Acre, formando a fazenda Bordon, com 46.149 hectares. (DUARTE,

1987, p 109).