318
REVISTA DA PROCURADORIA-GERAL DO ESTADO DO ACRE
Em meio às políticas governamentais que não
atendiam à manutenção do trabalho dos seringueiros e à
preservação da floresta, os seringueiros tentavam impedir
o que representasse o fim de suas vidas e tradições. Assim,
Chico colocou-se na defesa de seus companheiros seringueiros
e esteve várias vezes a frente dos empates.
Emsua entrevista, Chico enfatiza: “Uma das lutasmais
longas e difícil foi travada com o grupo Bordon
11
. Durou quase
10 anos. Durante este tempo nós fizemos mais de 20 empates.
Os proprietários tentaram me corromper. Ofereceram terras e
cem cabeças de gado para que eu servisse de mediador entre a
Bordon e os seringueiros. Não conseguiram.” (MENDES apud
PAULA; SILVA, 2006, p.40).
A agressão contra a floresta significava também
agressão contra muitas vidas, o que fez com que Chico Mendes
lançasse um projeto para encontrar soluções locais sustentáveis
para uma vida digna do povo daquela região, levando-se em
consideração que a floresta representava o único meio de
sustento para índios e seringueiros. “No Brasil, os seringueiros
foram os primeiros trabalhadores a articular o sindicalismo
rural com a ecologia.” (NAKASHIMA, 2006, p.23).
Chico Mendes mobilizava e organizava os
seringueiros em forma da luta por reconhecimento de direitos,
pois todos que ali viviam na mesma situação de sofrimento
e humilhação social, sendo motivados reciprocamente pelo
mesmo sentimento de injustiça generalizado, apresentado nas
11Geraldo Moacir Bordon, foi um grande pecuarista e o maior exportador
de carne bovina da década de 80 que adquiriu vários seringais em Xapuri
no Acre, formando a fazenda Bordon, com 46.149 hectares. (DUARTE,
1987, p 109).