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REVISTA DA PROCURADORIA-GERAL DO ESTADO DO ACRE
Antes de se declarar ao mundo, Chico Mendes
encontrava-se na mesma condição de invisibilidade social
de todos os outros seringueiros, como ele mesmo relata:
“Minha vida começou igual a de todos os outros seringueiros:
escravo submetido às ordens do patrão”. (MENDES, 2006,
p.13). Mas talvez o que distinguia Chico Mendes dos demais
seringueiros fosse o repúdio que ele havia herdado de seu pai
contra o sistema de aviamento nos seringais e também o fato
de ter aprendido a ler e escrever com um foragido da Intentona
Comunista chamado Euclides Távora, com quem teve aulas
sobre socialismo na época e que influenciaria mais tarde as
suas atividades na organização dos trabalhadores do Acre.
(NAKASHIMA, 2006).
O espírito de liderança e vocação diplomática de
Chico Mendes o levariam além, até o âmbito internacional para
manifestar-se e denunciar ao mundo as atrocidades humanas e
ambientais que ocorriam no interior da Amazônia brasileira.
“Como presidente do Sindicato dos trabalhadores rurais de
Xapuri, desde 1981, sua luta tinha sido pela justiça, trabalho
livre e direito de posse da terra.” (NAKASHIMA, 2006, p.51).
Mas agora o seu discurso ganhava o reconhecimento mundial.
Em janeiro de 1987, Chico conseguiu que
uma comissão da ONU viesse ao Acre
observar a luta dos seringueiros contra o
desmatamento dos fazendeiros. Os visitantes
ficaram chocados, e mais ainda quando
ouviram de Chico a informação de que aquilo
era o resultado dos projetos financiados pelos
bancos internacionais. (VENTURA, 2003,
p.86).