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REVISTA DA PROCURADORIA-GERAL DO ESTADO DO ACRE

parece tanto com a nossa própria história. O

seu lado nordestino, de homem acostumado

com as incertezas da vida e caudatário de uma

cultura muito tradicionalista, contribuiu para

formar o seu espírito organizador, paciente

e sagaz construtor de uma técnica ingênua

mas eficiente de luta política, como a tática

dos

empate

(que no significado amazônico

quer dizer impedir, atrapalhar). Seu lado

índio

, deu-lhe o conhecimento da selva e a

intimidade com o mundo vegetal. A calma

que ele aparentava era o lado mais forte de

sua herança indígena. (SOUZA, 2006, p.130,

grifos do autor).

Um dos principais problemas debatidos nos sindicatos

eraareformaagrárianoAcre,coordenadapeloInstitutoNacional

de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) na década de 80,

que não atendia a real necessidade dos seringueiros. Os Projetos

de Assentamento Dirigidos (PADs) criados pelo INCRA

faziam o assentamento de diversas famílias de seringueiros e

colonos; no entanto, pelas demarcações autorizadas de apenas

100 hectares para o assentamento destes, deixavam de fora

os varadouros (DUARTE 1987), ou seja, ficavam de fora os

caminhos traçados na floresta de acordo com o percurso das

seringueiras para o trabalho de extração do látex, chamadas

também de “estradas de seringa” (grifo nosso).

Sobre a reforma agrária relata Chico Mendes: “A

reforma agrária do INCRA, com base no Estatuto da Terra,

não servia pro seringueiro. Passamos a lutar pela permanência

ao

(sic)

colocação com as estradas, com traçado original. Isso

correspondia a 300 ou mais hectares. Mobilizamos o pessoal

todo pra luta. Vamos empatar o desmatamento.” (MENDES,

2006, p.40).