análise detectará modificações substanciais, tanto na economia quanto na cultura e na sociedade, ou
seja, emquase a totalidade doglobo.
Jürgen Habermas, em oposição aos pós-estruturalistas, como Jacques Derrida e outros,
apoia-se nos valores da própria modernidade para justificar as recentes transformações da vida
humana, não aceitando a superação dessa época histórica (da modernidade), sob o argumento do
risco da perda de direitos hoje garantidos em nossos sistemas. No entanto, mesmo Habermas
reconhece uma crise, característica de nossos tempos, aomencionar as promessas não cumpridas da
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modernidade .
Diante desse contexto, deve ser lembrado, ainda, que indivíduos e grupos de
interesse que se formam em torno de identidades, como a nação, a raça, a religiosidade e a
sexualidade, constituem-se em um vértice da política contemporânea, uma vez que, assim
como o Estado vem se modificando diante de sua crise de legitimidade, também a sociedade
se organiza de uma nova maneira. Esse não é fato irrelevante. Ao contrário, determina
profundamente o significado da política e a validade das regras democráticas, fazendo ver o
abismo que vai se formando entre as instituições estáticas da modernidade e as
necessidades dinâmicas da sociedade em rede.
Nesse sentido, é de se dizer que vivemos emum“novomundo”, que passa, nas últimas três
ou quatro décadas, por mudanças substanciais em sua estrutura social. Essa mudança é percebida,
dentre outras coisas, por um processo que os sociólogos chamam de “individualização”, não aquela
do liberalismo, mas uma nova maneira de criação da “identidade” de cada pessoa. Antes, a
localidade e a classe a qual cada um pertencia determinava suas características biográficas. A
individualização, por sua vez, significa que hoje se escolhe, entre uma infinidade de opções, como
construir a própria história. Nesse mundo em que os valores (e o valor) estão mais ligados aos
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serviços que aos produtos (do “eu faço” ao “eu sei” ), a tecnologia joga um papel importante,
podendo tanto servir como instrumentode dominação comode libertação.
De qualquer forma, independentemente da classificação e da conceituação do momento
histórico em que vivemos, existe uma realidade que não pode ser ignorada: uma revolução
informacional decorrente das novas tecnologias digitais, principalmente aquelas ligadas à rede
mundial de computadores, a já citada Internet.
Sobre o tema, a Escola de Frankfurt denunciou a técnica como instrumento de
dominação, enquanto Derrida, falando sobre as novas tecnologias da comunicação, manifestou
sua crença de que elas não proporcionarão uma democracia mundial, visto que são apropriadas
10
por poderes supranacionais . Marcuse afirma, por sua vez, que “a técnica por si só pode promover
8
Apud BORRADORI, Giovanna.
Filosofia em Tempo de Terror
: diálogos com Habermas e Derrida. Tradução de
RobertoMuggiati. Rio de Janeiro: Joge Zahar, 2004.
9
DEMASI, Domenico.
OÓcio Criativo
: entrevista a Maria Serena Palieri. Tradução de Léa Manzi. Rio de Janeiro:
Sextante, 2000. Trata-se do título de umcapítulo dessa obra.
10
PERRONE-MOISÉS, Leyla. Derrida noRio. Jornal Folha de S. Paulo, SP, CadernoMais!, edição de 8 de julho de 2001. Disponível
em:
<http://www.nelsonrezende.hpg.ig.com.br/Internet/DERRIDA.htm.Acesso em 13 maio 2002,
apud
OLIVO, Carlos Cancelier
de.
Reglobalização do Estado e da Sociedade emRede na Era doAcesso
. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2004.
Vida” – que
tempor característica a formação discursiva de opinião e vontade.
Rodrigo Fernandes das Neves
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