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LUCIANO JOSÉ TRINDADE

Nesse contexto, a Bolívia passou a exigir o

reconhecimento de seu direito territorial sobre a região doAcre

conforme lhe garantiam todos os documentos históricos, desde

a antiga Bula

Inter Coetera

(1493), passando pelo Tratado de

Tordesilhas (1494), pelo Tratado de Madri (1750), pelo Tratado

do Pardo (1761) e pelo Tratado de Santo Idelfonso (1777), até

chegar ao Tratado de Ayacucho.

Não obstante, a ocupação da região exclusivamente

por brasileiros e a possibilidade de invocação do

uti possidetis

pesavam em desfavor das pretensões bolivianas.

Na realidade, até a segunda metade do Século

XIX a Bolívia dedicava-se à exploração e exportação de ouro

e prata retirados das minas de Potosí, sem qualquer interesse

em ocupar o Acre, que aparecia em seus antigos mapas como

tierras non descobiertas

.Alémdisso, mesmo quando o governo

boliviano passou a incentivar foi bastante fraca a migração

de trabalhadores bolivianos para produzirem borracha no

Acre, que preferiam explorá-la em seu próprio território

6

.

A falta de adaptação e de um vínculo mais forte

dos bolivianos com a região do Acre foi evidenciada em carta

datada de 25 de outubro de 1902, dirigida pelo delegado

boliviano em Puerto Alonso, D. Lino Romero, ao presidente

da Bolívia, General Pando:

O Acre é nominalmente da Bolívia, mas

materialmente do Brasil. [...] Tudo contribui

para isso: as imensas distâncias e obstáculos

que o separam do resto do país, a população

estranha que o povoa, a fasta de vias de

6 SOUZA,

op. cit.

, p. 148.